Pensamentos Explícitos

Livro - Pensamentos Explícitos


1°Cap. Culpado, Vítima ou Cúmplice?



  
Dizia o rapaz em uma reportagem agora pouco no noticiário após matar a filha de quatro anos e enterrá-la em baixo de sua cama:

“Dizem que os loucos se tornarão os donos do mundo após o apocalipse, os “normais” viverão na loucura perante a decadência ao lado dos pobres que se igualarão aos ricos. Será um mundo justo e digno para a humanidade! Imagino as vagabundas espalhadas por ai mantendo as pernas fechadas com um cinto de castidade colocado por elas mesmas, devido ao medo de serem estupradas. Antes de o mundo deixar de ser imundo, ele será pintado da cor Sangue, preto carvão, haverá gritaria e ranger de dentes, “Anjos” inocentes pagarão pelos erros dos adultos, morrerão! O que fiz foi para protegê-la de vocês... Famosos Corruptos!”

Após a sua declaração o repórter ficou com uma cara de bosta sem saber o que falar...

“É isso aí!”

Antes ele estivesse ficado calado, imagino que o ancora deve ter pensado o mesmo que eu.

Não sei o que é mais estranho nesse momento, o jornalista que perde o texto durante a reportagem, o ancora com um olhar de peixe morto ou eu tomando chá de erva cidreira enquanto minha mulher dá pra outro alguns quilômetros daqui. Corno conformado? Não, pai responsável! Tenho uma menina de seis anos com Camila. Desde que Julia nasceu fui um pai presente, após os dois anos de idade dela sendo mãe também. Estamos casados há nove anos e fiquei sabendo da primeira traição há três anos. Triste ser humilhado de forma tão injusta e vulgar expondo meu orgulho, acabou me levando a falência.

~&~

22 de julho de 2009, uma noite de quarta-feira quente para a época, dia do nosso sexto aniversário de casamento, a levei para jantar em um restaurante a beira-rio, onde encontramos uma conhecida de Camila na fila de espera:

Adriana: - Camila, oi, aqui! (Camila tentou disfarçar, mas Adriana insistiu.)

Camila: - Ah, oi, você?

Adriana: Tudo bem? Cadê o seu namoradinho, o Everton? Que festa sábado passado, adorei!

Adriana era o tipo de pessoa que fala sem parar, que diz coisas sem visualizar a situação, que vomita as palavras... Eu senti ânsia! Camila tentando disfarçar, ainda tentou concertar, piorou!

Camila: - Não, você está enganada! (Em um tom áspero) Esse é meu marido, Luís!

Quando Adriana me olhou, não soube disfarçar a gafe, eu a cumprimentei com todo respeito e agradeci:

- Obrigado! Se não fosse o prazer da sua pessoa, jamais iria descobrir a verdadeira face da vadia com quem eu durmo.

Dei as costas e sai do local, Camila veio atrás para se explicar, não havia explicação. No dia da traição ela se dizia estar fazendo plantão no hospital onde ela é auxiliar de enfermagem a menos de um mês. Não posso negar que ela fez plantão, de pernas abertas dando pra um filho da puta chamado Everton.
Naquele dia após o constrangimento ela voltou pra casa a pé, sozinha, isso é o que eu imagino. Eu... fui relaxar!

Nessa cidade aos fins de semana, fica em casa quem quer, por ser uma quarta-feira, não tinha porra nenhuma, o negócio era ir pra “casa das primas”, mas antes uma chopperia!

Por anos sendo fiel, o marido santinho, o corno do marido prendado... Naquela noite me tornei um irracional débil!
Sentei a uma mesa no deck ao lado de fora da chopperia para me distrair com o movimento, para digerir o desgosto da vadia pedi logo uma torre de chopp. Fiquei sem chão ao saber daquela forma, fiquei totalmente desnorteado. A cada gole, um pensamento ruim, a cada abastecida de copo um desejo constante de morrer, matar, sei lá, já estava pensando demais. Quando parei pra olhar a minha volta, apenas eu e a torre, a chopperia quase fechada. Fiz um sinal para o garçom, quando ele mais perto, não era ele, era ela, uma linda garçonete. Ela sorriu para mim, eu sorri para ela, pedi uma caneta e anotei o número do meu telefone em um papel toalha. Minutos depois trouxe-me a conta, e para minha surpresa seu telefone anotado em outro papel toalha.

Sai dali do jeito que entrei, a mesma merda, o mesmo corno pensando na vaca! Não me dei conta que havia sido correspondi por aquela linda garçonete. Abri a porta do carro demorando alguns segundos até ligá-lo, motor esquentando e minha cabeça fervendo, não bebi o suficiente para relaxar, então peguei a coragem e o rumo do puteiro.

Cheguei ao inferno, e fui recebido pelas pupilas da Grande Anciã Vadia. Primeira vez em um lugar como aquele, segunda vez pagando pra uma puta tocar meu pau, e a terceira vez torrando a porra do meu dinheiro e tendo de responder a merda de uma pergunta de uma zinha qualquer.

- Uhn, então deixou a mulherzinha em casa pra encontrar uma mulher de verdade?

Mulher de verdade? Ela se acha uma mulher de verdade porque sabe abrir as pernas e cavalgar feito uma cachorra no cio? Pensei comigo!

- Hoje vou te dar a melhor noite da sua vida!

É verdade, “a melhor noite da minha vida”! Descobrir que sou corno e ainda por cima gastei quase mil reais com essa... Essa morena gostosa! Sim ela sabia o que fazia, e não me arrependi nem um pouco. No dia seguinte, aquela mulher que me possuía feito uma doida, já sabia de toda minha vida enquanto transávamos. Por fim, sai de lá satisfeito e me reconciliei duas horas depois com Camila.

~&~

O chá acabou faz tempo, a Julia está dormindo, coisa que eu deveria estar fazendo.

Estamos separados há quase um ano e morando sob o mesmo teto, ela tem o dinheiro dela, eu costumava ter até torrar o meu com a depressão. A Julia tem sido uma civil em meio a essa guerra, discussões e ofensas cabeludas. As agressões partem sempre de Camila, faço de tudo para não ser o vilão, me defendo correndo dela pra não fazer uma burrada irreversível, chega a ser até uma situação hilária, triste.

São duas horas da manhã, ela acabou de chegar, o “namoradinho” dela trouxe-a de moto. Eu odeio o jeito que ela me olha quando entra, sorri com desprezo, erguendo a sobrancelha como deboche. Acho que ela se satisfaz com minha tristeza, eu ainda amo, e se estou nessa situação é porque amo ainda mais minha filha, então o jeito é aceitar essas condições lastimáveis. 



Lá vem ela, entrou... Chorando?

~&~

Após conversar com Camila sobre sua traição, omiti o que havia feito durante a noite, disse que havia dormido em um hotel e nada mais... Menti!
Já ela foi até a casa de sua irmã Lurdes, que estava tomando conta de Julia durante o nosso jantar. A merda da comemoração do aniversário de casamento!

~&~

Dizem que depois da primeira merda que você faz, não vê tanta maldade na segunda, porque se erra na primeira vez, o erro não deixa de ser erro, isso é o que ambos pensávamos e não compartilhávamos.

Fiz um tanto a mais de chá. Não era para mim, mas sim para a vadia do quarto ao lado.

É dessa vez a coisa foi seria, toda jogada na cama, espero que Julia não acorde.

~&~

Após se passar quase seis meses da traição dela, da minha traição. Encontrei em minha calça social o telefone de Amanda, a garçonete da chopperia. Estava meio apagado por ter sido lavado junto com a calça, mas era visível o número. Fiquei segurando aquele papel por uns quarenta minutos. Não resisti e liguei.

Ela me atendeu meio receosa, mas logo se lembrou de quem se tratava “O cara triste da mesa treze”, treze... Por essa nem Zagalo esperava! Conversamos por quase duas horas e meia e marcamos de ir a um barzinho na zona sul da cidade, onde jamais iria com Camila, por ser muito fresca, odiava lugares rústicos ou simplórios, sendo assim impossível trombar qualquer conhecido, aliás, não temos amigos em comum, creio que nunca tivemos.

No sábado seguinte após o telefonema, deixei Julia com minha mãe e fui buscar Amanda em sua casa.

Ao chegar enfrente ao seu sobradinho, toquei o interfone onde uma voz rouca me atendeu asperamente. Era seu avô, Guilhermino de setenta e poucos anos, que me encheu de perguntas até chamar por Amanda.
Passando pela porta da entrada, ela saiu tão tímida que não reparei e nem mesmo elogiei seu vestido, seus cabelos ou muito menos sua maquiagem. Abri a porta do carro e ela entrou. Até chegar do outro lado um aperto no coração de estar cometendo um erro, ela tornou essa sensação ainda mais forte ao indagar:

- O que estamos fazendo não é certo, você é casado, mas mesmo assim quero muito isso. Não quero atrapalhar o seu relacionamento, mas acho que já é tarde pra dizer isso.

Sim, já era tarde! Dei um sorriso e fui me aproximando, coloquei a mão em sua face e a beijei, ela retribui com um olhar muito sedutor, safado! “Sexo, sexo, sexo,” era apenas isso que eu pensava ao olhar aquele corpo, aquele vestido em “V”. Aqueles seios enormes escondidos por de trás daquele pedaço de pano, não era vulgar, era muito atraente, sexy, que mulher!

“A mulher é igual ao homem quando se trata de sexo, sente o mesmo prazer de formas diferentes, a mesma atração, o mesmo assédio, a mesma entrega, e a maioria se fecha fazendo do sexo algo atormentador e monstruoso, deixando seu parceiro insatisfeito. O Pensamento de uma mulher é um oceano de segredos e desejos, de fantasias e vontades, algo que um homem nem imagina. Uma mulher traída é capaz de inúmeras formas de se vingar sem demonstrar qualquer ressentimento.”

O Bar onde fomos visitar era uma espécie de restaurante com música ao vivo. Não era como um comércio tradicional, esse estava mais para uma residência com um balcão e prateleiras fixas nas paredes muito bem decorado no quintal, onde a maioria das mesas reservadas ficavam no porão. Mais ao fundo daquele local parecido com uma taverna tinha um lindo piano a disposição dos clientes. Era muito exuberante e fino. Realmente o local era lindo.

Entramos e fomos recepcionados por uma senhora muito cativante, que nos acompanhou até a mesa próxima ao piano.
Olhei os vinhos a disposição, “Puta que Pariu” pensei, ao ver um DRC Romanée Conti 2003, é um dos vinhos mais caros a venda, o valor chega a quase $5.000 dólares, por apenas R$ 150,00 reais, “Falso” falei em voz alta, pedi um Chandon mesmo junto de uma tábua de picanha.

“Olhos que se prendem, mãos que se entrelaçam, e um pé descalço subindo pelas pernas por debaixo da mesa aguçando os sentidos de um predador voraz.”

Na melhor parte daquela noite, a picanha acebolada com pãezinhos de alho estava sendo servida na mesa, interrompendo meu êxtase, mas não foi maior que o meu desespero e raiva ao ver Camila entrando naquele local acompanhada.
Ela estava acompanhada de Everton, o mesmo cara com quem me traiu. A senhora acolhedora os acompanhou até uma mesa próxima a nossa, Camila me viu... Eu comentei!

- A lá a vaca da minha ex-mulher!

Camila: - A lá o corno do meu ex!

Já próximos da minha mesa não contive a raiva:

- Então esse é o filho da puta com quem você me traiu, e pelo jeito continua.

Camila: - Pelo jeito você não é tão diferente de mim! Quem é a vadia?


Amanda: - Vadia não, sua cadela!


- Quer saber Amanda, vamos sair daqui, o ar ficou irrespirável!

Camila: - Luís volta aqui! Eu ainda não terminei.

- Não, porque sou eu que estou terminando! E quer saber, estou adorando essa nova fase.

Menti mais uma vez!

Paguei a conta, pedi para embrulhar para viagem a picanha, e mandei pra puta que pariu a piranha.

Amanda meio assustada e tremula, me pediu desculpas... Desculpas? Ela não tinha que pedir desculpas, então a beijei tão fogosamente, ela me apertou tão excitada, fomos para outro lugar, um rio próximo dali, pensei em inúmeras safadezas, mas o que fizemos foi muito melhor.

“Ela me deu a mão, caminhamos pela beirada do rio bebendo o vinho, contou-me sua história de vida, seus medos e desejos. A noite estava fria e estrelada, o som da queda d’água estendia-se por centenas de metros, dava para avistar outros casais sobre a ponte. Entramos em uma rua escura e silenciosa, Amanda me pegou pela gola, me desejando, me possuindo, e eu a devorando. Me deu a costa e levantou seu vestido, me deu muito mais prazer, me deu seu corpo todo nu, efeito do vinho, efeito da cadela, efeito após o desespero.”

Nos amamos a noite toda em um motel luxuoso, transamos até o sol raiar, até o domingo implorar por descanso.

~&~

Depois de entregar o chá em seu quarto, Camila me olhou com olhos de perdão, lágrimas verdadeiras, eu apenas lhe dei a costa, não zombei, acredito que ela esteja pagando por esses três anos de traição de ambas as partes.

  

2º Cap. Viúva Negra




“Sexta-feira, 7 de Novembro de 2003. Mulher mata marido em legitima defesa. Após a conclusão da pericia, delegado afirma que esposa apenas se defendeu aos ataques de seu marido, e que se não tivesse empunhado a faca na barriga do agressor teria sido estrangulada até a morte...”

São quase dez horas da manhã e Camila não levantou, típico, já me acostumei a fazer o almoço e preparar a lancheira da Julia.
Puta merda! Olhar pra mim através desse espelho me causa desânimo, não vejo um futuro, até mesmo o piso gelado passa despercebido diante dessa figura de um homem acabado e desiludido. Pelo menos o banheiro é aconchegante, grande e bem decorado, assim como a casa toda. Na época das vacas gordas, meu negócio estava se expandindo até me perder... Me foder! Torrar dinheiro com viagens, bebidas, mulheres e sexo... Muito sexo! Engraçado, eu tinha até amigos há um ano, fodam-se eles, interesseiros filhos de uma puta só.

- Camila é quase meio dia! A Julia está querendo que você de banho nela. Camila... Camila... Ca... Ah, toma no...

Chamei-a por quase cinco minutos e não me respondeu, o jeito foi por um sorriso no rosto e brincar de ser feliz.

- Adivinha quem vai levar a princesinha passear no lago para visitar o senhor Roffus?

Julia: - O Papai! (esbugalhou os olhos enquanto com um sorriso compulsivo e gostoso)

Esse é o motivo por não sair de casa, não querer que Camila vá morar em outro lugar. Tenho medo de como ela irá educar minha filha, ou de como Julia reagiria em ter a mãe distante. 
~&~

Nascida no interior de São Paulo, Camila teve uma infância de fazendeira com sua mãe e seu padrasto. Após completar quinze anos teve sua primeira experiência, seu primeiro assédio, foi estuprada por João, o segundo marido de sua mãe, que por medo guardou seu segredo até sua maioridade.
~&~

“...em seu passado ela carrega outro homicídio, onde matou seu padrasto com uma pá por ter sido estuprada dentro de sua residência enquanto sua mãe lavava a roupa em um ribeirão dentro da fazenda. Delegado deixa claro para imprensa que ela foi vítima em ambos os casos.”

Na minha situação atual não existem culpados ou cúmplices, apenas uma vítima, minha filhota!
Camila tem um passado atormentado, que eu fui conhecer depois dois anos casado, somente há onze meses ela me revelou toda a verdade nos dois casos que a envolveu com as mortes.

- Filha, chega de brincar com o senhor Pato...

Julia: - Senhor Roffus, papai!

- Levanta da banheira, deixe-me te secar!

Julia: - Eu consigo...

- Venha cá. Você não lavou essa orelha, né senhorita Roffuda!

Julia: - Você que é Roffudo!

- Para quieta espoleta!

Ela caiu em outro riso compulsivo, não contive e entrei na dança. Enquanto Julia tentava por a roupinha fui até o quarto de Camila, que ainda estava na mesma posição, no mesmo silêncio.

- Estou levando Julia pra escolinha e vou direto para casa de um cliente, o almoço esta no fogão, não se esqueça de guardar o feijão na geladeira.

~&~

Naquela rua escura redescobri uma sensação que há muito tempo estava adormecida, Amanda despertou em mim uma paixão insana, a excitação, o prazer em ser tocado de uma forma safada e entorpecedora.
Eram 20h30 do dia seguinte quando a deixei em sua casa. Antes de sair do carro seus olhos brilharam em minha direção, se aproximou:

Amanda: - Não sei se vou te ver de novo...

- Mas eu quero... Ela me interrompeu sussurrando:

Amanda: - Eu quero muito te ver novamente, mas caso eu não tenha outra noite dessas, quero que saiba que foi a coisa mais doida que já fiz em minha vida, foi a melhor de todas, você soube me levar, me tocar antes mesmo de eu te guiar. Pra mim foi tudo muito intenso... Conversa com ela, tenta entende-la, tente se explicar. Caso ela seja uma vadia, louca e não te mereça... Me liga se precisar de algo! Só não me trate como último caso, mas sim como uma possibilidade de uma vida melhor, feliz!

Beijou-me, eu não soube o que dizer, apenas retribui. Acelerei vagarosamente, atravessando as faixas o mais lento possível, não queria ter de ver a cara dela por outra vez... Camila!
Liguei para minha mãe para ter notícia de Julia, expliquei o que se passou, o que ocorreu e que talvez a casa viesse a baixo.
Estacionei o carro na garagem. A luz da sala apagada, apenas a luz do corredor acesa, cheiro de cigarro pela casa. Entrei em nosso quarto, ainda era nosso até a noite anterior, fui tirando a roupa. O cheiro de cigarro se intensificou, Camila estava sentada na poltrona com o cigarro aceso, na outra mão um copo com bebida sendo girado com gelos se chocando um contra o outro, eu apenas de cueca.

Camila: (Levantando-se vindo em minha direção) – Qual a sensação de outra pessoa tocar seu corpo depois de tanto tempo tendo uma única pessoa fazendo isso? Errado, perigoso e extremamente excitante. (Ela começou a passar a mão pelo meu corpo, descendo o resto de pano que me cobria, me deixou apreensivo) Agora eu te tocando, qual é a sensação? Se sente a vontade, você sabe quem sou eu, o meu calor, o meu toque. Eu te conheço, você me deseja... (Começou a beijar minha costa, meu pescoço, chupando minhas orelhas, usando as mãos para encravar suas unhas em meu peito, arranhando-me, me mordendo) Você gosta? Você me quer? Gosta disso?

Cai como patinho em seu joguinho de sedução. Amar é uma merda, me deixei levar pelo prazer, pelo amor, deixando o orgulho de lado e se entregando a minha decadência. 


Deitou-me na cama, me cobriu de uísque e me chupou, me marcou, me ferrou... Eu amei aquela condição! A falta de vergonha na cara acreditou que aquela vadia poderia mudar e ser apenas a minha vadiazinha. Parando pra pensar não era muito diferente dela. Transei com ela mesmo sabendo que na noite passada estava com outro, na verdade não tive tempo para pensar naquela possibilidade, já estava com a cara entre suas pernas.

Ela subiu em cima de mim:

Camila: - Gosta assim, sentindo o calor do meu corpo, dessas unhas nas suas pernas? Sente como esta úmida? Coloque o dedo em minha boca.

Incansável, estava esgotado quando ela me pediu mais, mais e um tanto mais. Desgraçada! De uma coisa não posso reclamar, foi esse tipo sexo que me prendeu a ela por tanto tempo, que ainda me prende.
Outros cinco meses se passaram, o relacionamento aparentava ter voltado ao normal. Amanda não me ligou, eu não liguei. Camila passou há ficar mais tempo dentro de casa, mas não desgrudava do computador. O notebook parecia que estava grudado a ela, ia para o trabalho com ele, em casa até no banheiro levava. Foi ai que me despertou o interesse, todo o pesadelo se iniciando. Ela mantinha conversa com Evandro, mas por algum motivo não queria mais vê-lo, bom sinal? Não, tinha outro na jogada! Mas fiquei tranqüilo, era um caso virtual do qual não teve contato físico. Até que ponto uma pessoa suporta tudo isso? Estava sendo testado!
Quase um ano se passou desde a última vez que vi Amanda. E Camila estava estranha. Estranha não, totalmente fechada, não queria transar, não queria que eu a tocasse, fodeu!
~&~

Quando voltei da casa do cliente o relógio marcava 16h30, Camila esta na cozinha comendo algo. Que cara péssima! Sempre adorei o cabelo bagunçado ao se acordar, mas naquela situação, com rímel, maquiagem borrada, parecia mais o coringa depois de esfregar a cara em arenito.

- Quer beber algo? Eu vou...

Camila: - Some da minha frente, vaza! Seu corno!

Golpe baixo! Estava me olhando com um ódio mortal, da última vez que aconteceu isso apontou uma faca para mim!

~&~

Em um sábado fomos a um show ao vivo na cidade, onde se reuniriam a maioria dos antigos amigos. Ela estava feliz, sorridente, me abraçando, uma Camila diferente dos últimos anos. Começamos a beber antes do show, em um barzinho próximo ao local. Os amigos dela da internet estavam presente. Foi uma rodada atrás da outra de chope, doses e mais doses de tequila, banheiro sendo visitado com mais freqüência. Ela estava começando a ficar bêbada, eu já estava rodando.
O show começou eram 16h30, e por mais outra vez fui ao banheiro e comprar bebida. E como se fosse tudo combinado, destino, sorte ou sei lá o quê, adivinha quem estava na barraca de chope trabalhando... Amanda! Ficamos conversando por alguns minutos, ela queria conversar mais, eu queria sexo mais uma vez. O desejo retornou, a insanidade não me dominou. Eu não podia, eu não queria errar novamente, então como se o desejo estivesse me matando por dentro, sai dali e fui até Camila.

 - Filha de uma puta!

Berrei, ela não me ouviu devido ao som alto, estava beijando outro, o amigo da internet, e como impulso eu já sabia pra qual lugar voltar, fiquei quase até o final do show ao lado da barra em que Amanda estava. Antes que dessem por falta dela, a seqüestrei, claro que ela aceitou meu convite de fugir dali, abandonei Camila novamente, mas sem nenhum remorso, ou qualquer tipo de culpa.


No lado de fora do estabelecimento a beira-rio, sentamos em um banco todo arranhado com nomes dentro de corações, declarações de amor, de ódio feito por algo pontudo... Ela interrompeu a algazarra das gaivotas:


Amanda: - Está com um olhar distante, triste... Aconteceu algo?

- Esse tipo de situação entre nós esta se tornando normal, sempre que Camila pisa na bola, eu te encontro... Esquece, prefiro não falar sobre isso.
Amanda: - Não sei o que te dizer sobre isso, faz o seguinte, me espera aqui, eu preciso ajudar o pessoal guardar as coisas, limpar o que está sujo, enfim, em meia hora ou menos eu volto e vamos pra um lugar diferente enquanto se cura dessa tristeza... (Ela foi gentil em não dizer a palavra BEBADO!)

- Volta sim, vou ficar aqui, volta...

Amanda: - Não saia daí! (Saiu correndo e eu me corroendo de ódio)

O último suspiro de raio de sol no horizonte se perdeu, as luzes da cidade foram se ascendendo, e me surpreendi com a capacidade de Camila não se importar, não se perguntar a onde estou, o que faço, o que me aconteceu... O celular em minha mão e nenhuma ligação, vinte e nove minutos e Amanda apareceu.

Amanda: - Bem, onde está seu carro?

- Está na garagem do evento!

Amanda: - Entendi. Vamos ao meu carro, posso te levar?

- Se você me fizer esquecer toda essa palhaçada pela qual estou passando, topo qualquer lugar! E detalhe, minha chave do carro está com Camila, garanto que ela vai saber o que fazer.

Amanda: - Imaginei que ela estivesse aqui.

- E já deve imaginar o que ela me fez, de novo! Nesse momento deve estar em algum canto se dando para um carinha da internet. Que não seja no meu carro, ela faça o que quiser, estou farto!

Amanda: - Quer conversar sobre isso?

- Sinceramente não, me tira daqui!

Amanda: - Ótimo! Olha que eu trouxe, vou te embebedar...

- Mais um pouco você quer dizer.

Amanda: - Pra onde estamos indo você pode fazer o que quiser.

O carro foi saindo por entre o povo esparramado na rua, alguns caindo de bêbados, outros dormindo na calçada e algumas risadas altas exageradas, isso porque não faziam nem meia hora que o sol se pôs. Deitei o acento do carro para que o vinho descesse com mais facilidade, olhando as luzes ofuscando a minha visão e tornando a situação engraçada aos olhos de Amanda que me beliscou.



Amanda: - Nada de dormir, pode levantar que você vai me fazer companhia esta noite.


- Pode deixar, que o ódio que estou não durmo tão cedo.

Chegamos a casa dela. Está morando sozinha em um condomínio muito luxuoso. Assim que parou o carro na garagem, tomou a garrafa da minha mão e a tomou todinha em um gole só, tinha pouco mais da metade, fiquei surpreso e ela sorriu.

Amanda: - Vou me arrumar rapidinho e logo saímos.

- Posso te ver?

Amanda: - Se você se comportar... Vem!

 Levou-me até seu quarto me fazendo ficar sentado em sua cama. O mundo girava, vista turva, minha língua dando nó, ela foi se despindo bem devagar jogando as roupas pelo chão. Ficou nua... Foi por um minuto! Entrou no banheiro, escutei a água caindo no chão, não ousei sair da cama, esperei que o tempo me consumisse até vela sair pela porta envolta a uma aura, uma cortina de fumaça branca, o vapor de seu corpo sendo sugado pelos meus pulmões. Uma toalha em volta da cabeça sendo retirada envolvendo o corpo deixando a pele seca, devagar e provocante, uma das pernas posta à beira da cama entre as minhas para alcançar os pés, meus olhos seguindo os movimentos das mãos, cada canto que a toalha ia percorrendo o úmido... Eu vi quando ela me viu o meu olhar de desejo! Em seguida uma minúscula calcinha, tampando o necessário, o desnecessário a meu ver. Uma camiseta branca com borrados de tinta pretas, o nome de uma banda de Rock junto de uma calça de couro que parecia mais um espelho refletindo as coisas a minha volta. Não conseguia pensar em mais nada, apenas naquele corpo, naquela sedução, e como se ainda faltasse algo ela se fez, se criou com uma maquiagem gótica. Que delírio! Nunca pensei que naquele mundinho existissem tantas faces. A verdade é que nós homens subestimamos a mente feminina, acreditamos que uma mulher “direita” são as santinhas pra casar.  


“E quem disse que as santinhas entre quatro paredes são apenas delicadeza? Safadeza até mesmo os crentes gostam de exercer, se casam pra dizer que não estão vivendo em pecado e ao perceberem que a pessoa ao seu lado não é a outra metade da laranja levam uma vida pacata e sem desejos, isso por causa de outro safado a frente dizendo que o seu dinheiro é a prova de sua fé.”

Às vezes é nas “erradas” que encontramos nosso céu, nossa satisfação por toda vida, nosso amor. Casar para se ter uma relação sexual é algo totalmente precipitado.
Após terminar sua maquiagem me olhou procurando um sinal de aprovação:

- Delícia...

Ela sorriu e completou:

Amanda: - Você não perde por esperar!

Ela estava certa! A noite estava se tornando totalmente imprevisível. Pouco mais de 20 minutos cortando as ruas, chegamos a um barzinho no centro da cidade, lotado de gente de preto, roqueiros que não acabavam mais. Me senti um pouco deslocado ao entrar no recinto, mas ela logo me confortou:

Amanda: - Relaxa! Uma coisa boa de vir nesses lugares, ninguém repara na sua roupa, no seu cabelo, na sua risada, aqui você é simplesmente você!

- Tá, não reparam em mim, porém não pode dizer por si, você está um arraso com essa roupa! A cada passo tem alguém te comendo com o olho.

Amanda: - Então porque você não gruda em mim?

Coloquei a mão em sua cintura, ela puxou-me grudando a seu corpo, quando dei por mim percebi um palco com uma banda rolando um som muito agitado. Ela me segurou firme e foi se enfiando até chegar próximo do palco. Pulei, gritei, extravasei... Ela fez o mesmo. Nunca havia me sentindo assim, livre!


A cada música um movimento sensual, a cada batida de pratos do baterista um gemido em meus ouvidos, foi me deixando doido, alucinante, totalmente entregue aquele gingado de cintura. Ao som de “You’re Crazy – Guns and Roses” Me puxou mais uma vez junto de seu corpo e sussurrando em meu ouvido:


Amanda: - Quero você agora!

Encostou aquela calça agarrada a sua bunda em mim se contorcendo, esfregando-se por todo meu corpo. Não resisti, tomei-a pela mão entramos no banheiro feminino. Ela estava de costa pra mim com as calças abaixadas quando o som "Breed – Nirvana” começou a tocar, que loucura, uma intensidade, um prazer inexplicável. Quando estava quase no clímax, uma segurança feminina me retirou de lá quase a tapa. Ficamos no barzinho até há uma da manhã conversando com outros dois casais, no qual viriam a se tornarem amigos próximos. E quando tudo parecia estar próximo do encerramento ela deu a seguinte idéia de irmos todos a sua casa, claro que todos aceitaram. No meio do caminho Alex e sua namorada Carla compraram mais bebidas, tequila e conhaque! Loucura! Mas na hora eu nem estava pensando nas consequências.


Doses e mais doses, uma após outra, não era sábio levantar do colchão posto no chão da sala com outras cinco pessoas esparramadas por ali. Essa é uma cena que não sai da minha cabeça, todos ali deitados, cada um com sua parceira na pegação, Amanda teve a ideia em tirar minha camisa, todos fizeram o mesmo, em menos de um minuto estavam todos nus, transando! Não teve troca de casais, mas o fato de estarem expostos era novidade pra mim, não me senti intimidado e acabei me deixando levar pela situação.

No dia seguinte o “dia” já estava terminando quando acordei, já se passavam das dezesseis horas. Apenas eu e Amanda na sala, o resto do povo haviam se evaporado, quem sabe foi apenas um sonho safado com aquelas pessoas presentes. A foto de papel de parede no meu celular lembrou-me de que aquilo foi real.

- Obrigado pela noite de ontem, posso dizer que foi a coisa mais doida que eu fiz. Você realmente me surpreendeu, não esperava por tudo aquilo.

Amanda: - Nunca fiz aquilo, como eu estava com você me senti a vontade, como se nada tivesse conseqüência, se era certo ou errado, apenas me deixei levar e as coisas aconteceram.

- Acho que isso foi recíproco... Mas nunca foi até aquele bar?

Amanda: - Sim, por muitas vezes, porém antes que eu pudesse me envolver em uma aventura doida que nem a de ontem, vinha embora. Como disse ontem, me deixei levar!

Após alguns minutos de conversa, pedi-a para me levar embora, a noite de domingo seria turbulenta com Camila.
Amanda me deixou poucos metros de casa, me deu um beijo, sorriu dizendo que eu sabia onde encontrá-la. 


Assim que passei pela porta da sala vi Camila, sentada assistindo TV. Perguntei por Julia, não respondeu. Verifiquei toda a casa e ela não estava lá. Ao invés de ficar na minha, calado, não resisti e soltei a primeira alfinetada:


- Que coisa linda que você fez ontem. Parabéns... Mas não pense que foi a única que se divertiu.

Camila: - Eu não fiz nada demais. Estava curtindo com meus amigos e você mal ficou comigo, fiquei te esperando quase uma hora no carro.

- Lógico, estava indo ao banheiro e numa dessas idas, na volta te vi beijando outro.

Ficou sem argumentos...

Camila: - Estava bêbado, não sabe o que viu.

- Não me venha com essa, mas me diga, você se divertiu, aproveitou sua noite?

Camila: - Depois de te esperar por um bom tempo, fui à república dos rapazes.

- Que bom saber, me sinto menos culpado na situação.

Camila: E você onde festava?

- Se realmente quisesse saber teria me ligado no celular, mandado mensagem, qualquer outra forma teria feito, mas não, nem um sinal de vida. Não me venha com essa agora...
O meu celular tocou, ela correu pega-lo... Era o Alex, mandando mensagem falando da noite passada. Pra piorar a foto de contato, estava ele e a namorada despidos. Ela viu todas as fotos! Vi seu rosto se transformando a cada foto vista, a cada segundo...

Camila: - Eu vou te matar seu Filho de uma Puta! Como ousa me trair assim? Quem você pensa que é?

Ela saiu andando da sala, foi até a cozinha e voltou... Uma faca empunhada.

- O que você pensa em fazer?

Camila: - Você ainda pergunta? Vou te matar seu corno, vou te castrar.

- E o que você fez? Você acha certo? Direitos iguais!

Camila: - Direitos iguais o cacete, não pense que eu não tenho coragem, fiz uma vez e posso fazer de novo.

- Mas do que é que você está falando?

Camila: - O que é meu é somente meu, eu não divido! Quando eu saio com outros caras...

- Outros caras? Então tem muito mais “outros caras” do que eu imagino...
Camila: - Isso mesmo! Mas eu não misturo sentimento, já você esta saindo com aquela vaca de novo. Esta gostando dela é? Hein? (Camila foi perguntando-me e se aproximando) Você nem imagina do que sou capaz, um marido eu matei, matar outro não me custa nada.

- Entendi, então quer dizer que ele tentou te estrangular porque ele sabia das suas traições.

Camila: - Cala a boca! Você não esta em condições de me acusar.

Um movimento veloz rasgou uma ponta da minha camisa, fiquei assustado, quase me borrando, achei que realmente fosse capaz de me matar, então me calei e deixei-a falar.

Camila: - O que eu faço é problema meu, o que eu quero tem que ser quando eu quero.

- Você está ficando maluca!

Camila: - O último que disse isso morreu com uma pazada na cabeça. Não sabia respeitar minha vontade, achou que poderia me ter toda hora, tive que dar um basta. Agora pensa bem o que você quer pra você.

- Você esta me ameaçando?

Camila: - Entenda como um aviso!

- Camila eu quero o divórcio!

Camila: - Nunca!

Esbravejou de uma forma insana colocando a faca em meu pescoço. 

Camila: - Daqui você sai morto. O que seria da nossa filhinha? Será que é sua? Seu frouxo! Saia daqui e veja do que sou capaz...

Ela começou a me revelar os monstros existentes em sua alma, deixando a mascara cair, o quanto seu passado é negro. Nesse momento temi pela vida de Julia. Camila era louca, uma assassina, minha mulher... Como pude não perceber o tipo de pessoa com quem estava me envolvendo?

&~


- Camila, estou indo buscar a Julia!

A verdade é que quando mais nova já era uma vadia, ela adorava insinuar-se para os homens da fazenda, sem ninguém saber, imaginar o que aquele rostinho doce escondia, ela já tinha se envolvido com muitos pais de famílias ali da redondeza em troca de dinheiro. Seu padrasto descobriu a história toda, o boato corria fácil entre os homens e para calá-lo, se ofereceu a ele também, após ele rejeitá-la por muitas vezes estava disposto a contar todo o ocorrido para a mãe dela e acabou perdendo a vida pra fúria de Camila. Por fim, ela se deu bem na sua versão para a polícia o acusando de tentativa de estupro.


O mesmo fim teve seu ex-marido ao descobrir que era traído, ele estava possesso de ódio. Ele havia contratado uma pessoa para seguir os passos de Camila, onde tirou muitas fotos com seu amante. 
Assim que a viu, pegou-a pelo pescoço enchendo-a de perguntas, de ofensas, chorando... Sem perceber estava estrangulando-a na cozinha. No desespero ela agarrou-se a tudo que tinha ao lado, já quase perdendo os sentidos esbarrou-se em uma faca, em um único movimento encontrou seu objetivo, aquela lamina afiada abriu espaço entre a carne macia alojando-se no estomago cheio de cachaça.
Após a perícia criminal ela conseguiu escapar por legítima defesa. Depois de todos esses anos ao lado de Camila, percebi que sua loucura a torna astuta e perigosa demais.
 

3º Cap. Diário Nú






Jogou os talheres sobre a pia, lavou as mãos, a boca e as secou em um guardanapo amarrotado sobre a mesa de jantar toda bagunçada.
Ela estava um trapo!
Descabelada, lembra muito a deprimente e falecida "Amy Winehouse".
Eu parado em frente a geladeira seguindo seus passos pesados, passou por mim sem expressar um único sentimento ou movimento com os olhos, eu não existo... Com a calcinha de renda amarela enfiada no seu apelido, seguiu para sua prisão, seu confessionário, onde o notebook serve de janela e seu cigarro aceso de calmante, vejo a sala de visita se tornar uma névoa de vício e futilidade.
Voltei a atenção para a geladeira e em um gole só a água da garrafa desceu amarga, escaldante e pesada... Era cachaça!

- Sua retardada! Está ficando maluca? Cachaça na garrafa de água que costumo dar para Julia?

Os xingamentos duraram alguns minutos, falei, falei... E nenhuma ofensa veio  da sala. Ela estava usando um fone de ouvido maior que sua cabeça, mas tenho quase certeza que vi um sorriso de canto como se aquilo   fosse algo pensado.
Decidi não me estressar ainda mais.

- Estou indo buscar Júlia.

É triste vê-la nessas condições. Sem vontade de viver... Egoísta! Às vezes tenho a sensação de que ela se esqueceu que é mãe, de ser e agir como tal. Fico surpreso por Julia não a procurar por seu carinho.

Que garagem suja!

Meu carro então parece ter pego estrada de terra todos os dias de tanta sujeira acumulada.

Como a horas passam, 17h30, Julia já deve estar me esperando.

O céu nublado alaranjado anuncia a chegada da noite, uma brisa leve e abafada, um dos dias mais quente do ano. Acho que vai chover.

"Um a um os pingos vão se intensificando, somente o som da chuva no pára-brisa. O vazio no peito. A boca seca. A luz brilhante que clareia toda a cortina de água. Um céu negro e agressivo, uivando e esbravejando contra nós seres destrutíveis."

O caminho até a escolinha de Julia parece longo e tranqüilo, embora o céu esteja desabando sobre mim. Foi em um dia assim que descobri a caixa de "pandora", e como não estava satisfeito resolvi abrir e ver o mundo cheio de mentiras, de pessoas fúteis e animalescas, de como Camila era repugnante e indomável, eu li o seu diário! Deveria eu nem ter chego perto, nem o encontrado, algo tão sujo que acabei deixando-me levar pelo mesmo espetáculo de putaria e luxuria.

~&~

Após chegar em casa estressado com alguns dos funcionários, a melhor coisa a se fazer é tomar um banho bem demorado, por que não uma banheira?

Porta entreaberta e la estava ela, pronta para mais uma noite.

"Parada em frente ao espelho verificou com um olhar cirúrgico a maquiagem, o vestido que contornava as suas curvas, empinando os seios com um decote avassalador."

Camila: - Vai ficar parado ai até que horas? Escutei sua lata-velha na garagem. Queria ter saído antes de você chegar, enfim... Não me espere, talvez passe um pouco do horário.

Vaca é um Civic, pensei... Está fazendo isso por vingança, ou não, sempre fez sem eu saber.

Uma buzina de fundo...

Camila: - Opa, meu carona chegou! Julia esta dormindo, então, sem neurose.

Ela sabia que eu iria mandar seu acompanhante a puta que pariu, mas fiz algo digno, dei-lhe as costas e segui para o meu banho. Eu já tinha alguém em mente, uma pessoa que estava levando-me a uma nova paixão, Amanda!
Observei ela subir no automóvel, antes ela deu uma olhada para trás, sorriu e fechou a porta

"Um vazio no peito e apunhaladas dilacerando qualquer sinal de paz."

Antes que eu pensasse em qualquer besteira, um relâmpago riscou o céu, clareando toda a janela, tranquilizando minha alma e devolvendo minha calma.

Os passos foram intermináveis até o quarto, os degraus ficaram altos e exaustivos. Gravata afrouxada para  desengasgar o gosto de merda que não foi posta pra fora. Calça enroscada nos pés e olhando para o vácuo, sem pensar em nada, em ninguém. Parado feito estátua no espelho, olhando o excesso de pele, aquela gordurinha sem vergonha, algumas estrias, algumas marcas do tempo, onde não sei pra onde vou, o que inventar ou me reinventar.

Outra clareada na janela, outra interrupção bem vinda, começa a chover, a ventar e trovejar.

Água escorrendo e seu vapor subindo, com o cansaço que estou, sou capaz de dormir dentro da hidro.

"Uma neblina envolvendo meu corpo, um arrepio subindo pelas pernas sendo submersas, passando pelas coxas e virilhas despidas, sinto como se fossem as mãos da traidora, uma lembrança muito bem guardada de uma língua me invadindo e me devorando, cada canto, cada espaço do meu pescoço, enquanto seu corpo desliza sobre o meu em um movimento constante e vagaroso. Nenhuma palavra é dita, apenas gemidos e chupadas, assédio e ternura, sexo e amor."

Enquanto me torturava em meu baú de memórias, um apagão, um raio estremeceu toda a vizinhança derrubando a energia. O banheiro ficou um breu, sendo iluminado por vezes apenas pela tempestade. Permiti-me ficar ali deitado, sem mover um músculo, tentando recuperar minha fantasia, porém, impossível... Júlia acordou com o som do raio.

Saco!

Assim que entrei em seu quarto, ascendi à vela, e vi aqueles olhinhos molhados e assustados.

Julia: - Papai ta bravo! Disse ela apontando para cima.

- Deus deve estar bravo sim amor.

Bravo comigo e com sua mãe, pensei.

Deitei com ela até pegar em seu sono novamente. E como uma pena voando livre pelo ar, meus olhos aterrissaram em segundos após observar o dançar daquela chama despretensiosa.

"Cabelos em minha face, um cheiro de flor, lábios separados e um olhar fixo. Um verde que envolve o mel sendo sugado pela imensidão negra da íris, Imensidão essa que me leva ao desejo de dominá-la, invadi-la com meus lábios, em seus contornos instigantes, tomá-la contra meu corpo, agarrando-a pela cintura e sentindo o meu ego invadir a sua vontade de assédio."
Outro raio e um sonho pela metade. A vela apagou-se mostrando-me outra coisa acesa, o notebook de Camila.

Sua futilidade tirou sua atenção do seu confessionário, fazendo-a esquecer sobre o bicho de pelúcia. Pensei mil vezes antes de por as mãos, mas não resisti à curiosidade pegando-o e indo até a cozinha.
Cada passo minha mente vibrava com tantos segredos, tantas verdades sujas,  tantos momentos repugnantes.
Uma página aberta e uma agência de viagens pesquisada, a vaca talvez estivesse pensando em sumir. Creio que não, seria muita sorte a minha.
Procurei seu diário em todas as pastas, mas encontrei apenas fotos de baladas e barzinhos, quase uma hora procurando até que... Wow!!!
Sua caixa de e-mail estava aberta.
Ao começar a ler, minha mente desligou-se de tudo, os sons cessaram, minha atenção voltada para uma única pasta, suas confissões, sua alma nua e crua.

Seu diário...

Pensamentos Explícitos

"14 anos... 

“Uma garotinha jamais deveria ouvir gemidos e sussurros, o rugir do pé de aço da cama no chão vermelhão e ter sua infância roubada, dando início ao seu desejo voraz e vicioso.”

“Ela gosta de sentir seus cabelos contra o vento, gosta de sentir o tecido dançante em sua pele, o cheiro do gramado e seu verde cutucando as suas pernas, lembra-se dos sons das madrugadas e se sente molhada por mais uma vez.”

“Seu primeiro toque, sua primeira degustação se torna inevitável, folhas secas caem, respiração ofegante e o cheiro das flores se intensificam, os lábios são mordidos, a pele se arrepia, os seios ficam expostos sendo contraídos pelos músculos, um grunhir é esboçado timidamente, ela acaba de conhecer sua primeira lua cheia.”

“Dezoito anos e ela já sabe o alfabeto completo do amor, da nudez e sedução, sua pele anseia por toque e joguinhos de traições, o jogo de xadrez tem seu início.”

Frase a frase me deixara perplexo, mas isso era apenas uma prévia do que eu estava para descobrir.

“Ele é casado e ela é aberta em todos os sentidos. Que mal há em acompanhá-los em um copo de vinho? Dois talvez. Três. No quarto copo ela estava sentada sobre a cabeça dele enquanto se deliciava na cabeça menos pensante.”

“Velho, rico e paga minhas contas, minhas bebidas, esse vestido curto avassalador. Seu elevador sobe nas alturas, assim como sua conta bancária, diferente  do que se tem entre as pernas e seu ego, ambos aposentados.”

“Loira, abusada e me ensinou apreciar a silhueta feminina. Três copos de tequila e um de cerveja foi o suficiente para eu acordar com aqueles seios enormes sobre minha perna e perder a minha calcinha.”

“O sopro do vento da cidade é diferente ao da fazenda, do pasto verde, do falso pastor que sempre me assediou, ou melhor, do qual eu sempre instiguei, estimulei de múltiplas formas. Aos domingos, nas quintas e sábados o vestido era na altura dos joelhos e se fazia presente sempre no primeiro banco ao canto, próximo ao pilar onde dava para se sentar apenas duas pessoas. No começo, cruzadas de pernas e cara séria e quando já estava acostumado com minha presença, um sorrisinho e uma subidinha do vestido, o suficiente para fazê-lo se engasgar com a própria saliva. E por fim um quarto de motel, luzes semi-acesas com uma garrafa de champanhe esvaziada sobre mim, com restos de morangos pelo chão, pela cama e por todo o meu corpo.”

“Um restaurante luxuoso e um acompanhante ainda mais receptivo, educado,   olhos azuis, barba bem feita e um corpo atlético... Gay! Uma pessoa maravilhosa com um belo namorado e atrevido, ambos estudam o mesmo curso de enfermagem onde estou no primeiro semestre. Ao fim da refeição um convite de uma festa para o fim de semana, chácara, piscina e nudismo. Beijos de despedida e Lucas o atrevido tira uma lasquinha da minha boca e uma piscadela sugestiva.”

“A festa fantasia de Adão e Eva quem comeu foi à aranha. Uma festa diferente, onde eu era a única hétero em meio a uma classe alta com um pingo de periferia. Absolut, Grey Goose, cocaína e maconha. Quando me dei conta já estava nua, apenas uma folha colorida tampando meu sexo e os cabelos soltos sobre os seios. Tudo girava, meu corpo estava suplicando por toque, até que alguém me tomou pela mão arrastando-me para o banheiro invadindo a folha colorida  com a boca, com os dedos e por fim beijando-me ferozmente, tocando ela até  saciar-me com gemidos presos entre seus dedos.”

Tudo gira em torno de sexo, bebidas e drogas. A cada página, a cada linha    uma história repugnante e deliciosa, que por sinal todo aquele texto deixou-me animado e com vontades, continuei a lê-lo.

“Mais uma vez tive que sujar minhas mãos, por mais uma vez alguém que não aceita como sou e minhas vontades... Idiotas!”

“Homens serve para uma única finalidade, servir nossas vontades. Fazemo-los pensar que o controle da situação é deles, e quando precisarmos de algo é só fazer caras e bocas para termos o que desejamos. Se eles recusarem é só negar uma noite bem comida que no dia seguinte os resultados aparecem.”

“Mulheres e amizades só acredito quando dividimos o mesmo lanche na cama e uma delas me devora mais que a quarta cabeça irracional.”

“Tédio quando me perguntam do que eu gosto. Se não sabe brincar solta o brinquedinho e vai embora ou ascende um cigarro e faz minhas unhas.”

“Ele me deu um tapa na cara só porque segurei o aposentado e o chamei de inútil. Ao menos pagou a noite!”

Pagou a noite?

“Verônica o que tem de sonhos tem de safadeza. Morena dos cabelos lisos e brilhantes, pele macia e morena clara, lábios carnudos e atrevidos, sente cheiro de pênis á quilômetros de distância, porém, trata seus casos como namoradinha santa e dedicada. Ela engana a si própria quando diz estar apaixonada, não passa de   uma boa trepada pra dizer que está tediosa.”

“Luis um cara interessante!”

Ao ler meu nome em seu diário meu coração bateu mais forte, os olhos se encheram de brilhos, uma gota escorreu.

“Quando o mundo parece ficar de ponta cabeça e te tratar feito um lixo, uma luz sempre irá te surpreender em meio a escuridão. Eu estava pensativa na    praça mexendo em meu celular, lembrando o quanto eu sou egoísta e fútil, o   tanto que fiz mal a mim mesma e as outras pessoas, foi então que ele surgiu  totalmente perdido na cidade. Ele se aproximou e pediu uma ajuda, acho que  eu era quem precisava, tentei ser no mínimo atenciosa. Pediu informações de  alguns lugares e que veio a trabalho, algo relacionado com informática. Respondi tudo da mais simples e ele me perguntou o porquê das minhas lágrimas. E como se eu o já conhecesse a muito tempo comecei a falar, a chorar, a  lamentar, e assim foi por alguns minutos com ele me ouvindo, simplesmente   ouvindo. Não me questionou, nem mesmo me julgou, apenas sorriu e falou: -  Todos nós temos uma escolha de mudar e fazer o certo, dependerá se iremos aceita-la ou continuar vivendo a mesmice. Se for necessário começar do zero,  faça isso! Se for algo ou alguém que te atrapalha, é melhor abandonar ou seguir caminhos diferentes. Ele sugeriu um café no “Crazy Coffe”, e aceitei uma cerveja gelada. Não era boa com as palavras, mas ele acabou levando na brincadeira e acabei bebendo café. Conversamos por mais de uma hora e trocamos números de celulares. Eu disse que ligaria, ele disse que não, perguntei o porquê e ele simples mente sorriu e disse que esperaria ser surpreendido. Esperto!”

Ao ler aquelas palavras me veio a tona todos os sentimentos que eu sentia por ela, os momentos de amor, o momento em que Julia nasceu... Mas minha alegria durou algumas dezenas de páginas, o que se seguia na leitura seria apenas dor e sofrimento, ela ali confessaria o desgosto por mim, que tudo seria apenas sexo bom e dinheiro.

...

"Aos sábados ela acorda cedo feito princesa e vai ao salão. Passa horas cuidando dos cabelos, das unhas, mas a maquiagem é por conta dela. Feita para noite ela sabe o tamanho da saia para sensualizar, sabe o tom dos olhos o brilho certo para dominar. Ela recupera sua confiança com uma taça de vinho e várias tragadas de seu cigarro ao lado da hidro, o cheiro de rosas se mistura ao da nicotina que se mistura ao oxigênio em seu pulmão negro."

"O sol começa a se por, a lua crescente da o seu primeiro sinal de vida no mês, e uma estrela brilha por cima dela. Como Vênus sua beleza se destaca, ela é convencida e mortal, seduz para se sentir especial e ter a certeza que a velhice não lhe alcançou. Seu decote fica a menos de um palmo do seu umbigo, entre seus seios um colar de prata com um pingente do infinito e seu salto pode alcançar as nuvens de fogo alaranjado.

"O mundo aparenta ter muitas pessoas diferentes, individualistas, mas muitas delas gostam do mesmo Whisky, da mesma música, os mesmos desejos, e quando elas se reúnem em um único local com bebidas e sexo, o seu lado selvagem é colocado amostra testando sua capacidade de atrair o parceiro certo para satisfazerem as suas vontades, Swing acabou tornando-se meu novo vício."

"Pernas amostra, saia pouco abaixo da polpa do bumbum, destaca a tatuagem que estende-se da virilha até o tornozelo decorado com uma corrente da mesma cor do colar, prata!"

" Assim que saímos da casa da Adriana fomos ao encontro de Everton um conhecido dela. Rapaz jovem de 25 anos, estagiário em medicina no hospital particular da cidade. Gostoso e safado, um tanto divertido e sem escrúpulos. "

Everton, filho da p... Então foi assim que o conheceu. A raiva já havia tomado conta antes mesmo que eu percebesse. Vontade de quebrar o notebook.

"Como todo ambiente noturno, as pessoas chegam moderadas e educadas, não há gritaria nem zombaria. Em menos de meia hora esse estilo muda, risadas a vontade, bebidas sendo recolocadas na mesa, flerte sem conseqüências ou timidez. O clube de Swing está mais lotado do que o normal, e tenho recebido muitos elogios e cantadas de todos os tipos, o que acabou causando um desconforto para Everton que está me dando muitas indiretas. Ao perceber que aquilo ali poderia estragar o clima do ambiente, coloquei a mão em seu abdômen com uma leve arranhada e dei-lhe um beijo demorado, lento o suficiente para quebrar qualquer tipo de barreira ou desconforto. "

“ Sala de neon, um tanto sugestiva, totalmente livre de preconceitos, pudor e julgamentos, apenas desejos e fantasias. Ao entrarmos na sala Adriana foi logo sentando na cama onde tinha um casal nu se deliciando de toques, Everton e eu ficamos no canto em pé. Ficar assistindo me deixou excitada, uma mão na minha cintura começou a correr por minha perna, a outra subindo por minha barriga chegando até o pescoço. Vagarosamente começou a beijar meu pescoço levando-me a loucura. Ele abaixou o zíper e comecei a tocá-lo. Levantei a saia rebolando contra seu corpo enquanto ele tocava meus seios... "

Em uma fúria súbita peguei a faca de carne e acertei o meio da tela do monitor no exato momento em que Camila entrou pela porta. Seu olhar era de ódio... Fiquei sem palavras!

4º Cap. Contratempo





"Sinto o ar preencher os pulmões, minha boca enche-se de saliva enquanto cada canto  das minas pernas é invadido pelos cabelos com cheiro de maça verde. Seus dedos cheios de segundas intenções correm por meu corpo causando arrepios, calafrios, junto de uma sensação sedenta de desejos obscenos. Ela sorri, me morde e assopra, deslizando suas unhas por todo meu abdômen e sorri novamente com seu olhar assassino, ali entrego-me e morro em seus braços até o último suspiro."

Passou por mim feito um nevoeiro, calado e sombrio, abriu a geladeira e pegou a garrafa de água afirmando:

- O prejuízo é todo seu! Você tem três dias para devolvê-lo a mim.

Me surpreendeu. Não discutiu, não gritou, não me insultou, já eu, me borrei todo. Toda molhada deu as costas e foi para seu quarto. Eu não significo nada para ela.


"Cabelos longos, pretos e molhados, a pele toda arrepiada, os seios expostos embaixo daquela blusa fina. Meu desejo, minha perdição!"

Juntei os pedaços da tela, assim como meus pedaços do meu "eu" covarde imaginando o motivos de seu semblante pálido. 

                                                                          &

A chuva parecia não ter fim, assim como a energia da sapeca Júlia. E no sofá aquela pessoa que um dia chamei de amor.

- Júlia, hora do banho!

Como o de sempre, banheira cheia... De brinquedos! Ali ela fica por mais de uma hora, tempo o suficiente para eu trocar algumas palavras sujas com Camila.

Ser pai é o mesmo que de alguma forma ser psicólogo, ao meu ver pelo menos. Você necessita de uma avaliação aguçada do certo e ser justo, os olhos precisam assemelhar-se a de uma águia e a dedicação de um elefante.

Três horas depois ela continua no sofá. Pálida com sua garrafa de água, algumas cinzas pelo notebook e o restante por toda a sala. 

Já tem três semanas que ela não sai e seis meses do último incidente. 

Cedo ou tarde o nosso corpo nos cobrará o aluguel, independente do tipo de vida que levamos, as areias do tempo se extinguirá. Para Camila a segunda parcela estava vencendo.

                                                                       &

Antes a casa viva cheia de flores, na sala, na cozinha, os corredores pareciam jardins, todos coloridos com os quadros de fotos alinhados cuidadosamente! Camila apesar das suas atitudes egoístas, ela costumava a ter uma visão boa para decoração, transformando a grande casa em um luxo de causar inveja.





Logo as cinzas começaram a tomar conta, a neblina foi baixando e afastando a todos que gostavam de nós. A inúmeras discussões, agressões... Como gostaria de poder ter controle da situação!

Mas quando o corpo não aceita mais nossas extravagancias, as consequências e as cobranças aparecem, ainda mais quando não respeitamos esse limites.

Já eram quatro horas da manhã quando Camila começou a vomitar junto de uma febre repentina. Passou o dia todo se queixando de preguiça, cansaço... Nenhuma novidade! Mas dessa vez era diferente.

Oito horas da manhã e seu quadro só estava piorando. Algumas dores abdominais e analgésicos atrás de analgésicos, junto de uma cara pálida e triste, comecei a ficar preocupado e imaginar o pior.

Camila, já que você não almoçou come este mamão com aveia! Vou levar a Julia na escola.

Voltei uma hora depois e o mamão estava sendo devorado pelos mosquitos. A sala estava toda bagunçada com alguns lenços umedecidos, amarrotados e espalhados pelos cantos. Senti um ódio subir pela garganta, mas acabei engolindo e aceitando a condição de babá. Sugeri ir ao médico, mas não obtive nenhuma resposta, o jeito era esperar ela vir atrás por ajuda.

Uma semana e a gripe não dava sinal de ir embora. Foi então que, p
egou um táxi e foi ao médico. Graças a Deus, porque a minha vontade era de pegá-la pelo pescoço. Normalmente ela é irritante, mas ficou mais rabugenta do que o normal, passou a reclamar de tudo e todos, nada estava bom, tudo estava errado, a vida dela era um inferno... Egoísta! Ainda bem que a Julia não a procurou. Camila não percebeu, mas, está perdendo a coisa mais importante que tem nessa vida medíocre que leva.

Após a duas semanas de cativeiro, teve uma melhora e não conseguiu ficar parada em casa. Todos os dias sempre no mesmo horário, as vinte e três horas, lá vai ela, com o seu salto, vestido decotado e a calcinha enfiado no... Seu apelido! Pareço estar vivendo em um looping, onde os dias parecem se repetir com o mesmo enredo, com cores diferentes de vestidos e sons de buzinas que se variam dependendo do dia da semana.

~&~

Eu estava começando a ficar depressivo.

"Olhos amarelados contrastam a pele pálida. Os olhos fundos e o semblante aborrecido parecem refletir com perfeição a sua alma envelhecida. Seu mau hálito parece expor toda a merda que há em seu íntimo."

Já fazia algum tempo que eu não falava com um ser vivo, estava eu e meus pensamentos, a raiva como vizinha, um suportando o outro, eu precisava desabafar com alguém, falar, despejar toda essa merda que estou sentindo, suportando nesse mês.

Amanda!

Já faz algum tempo que não ouço sua voz, ela sempre esteve por perto nos momentos ruins, até hoje não sei como ela suportou a tudo isso. Sim, liguei, e sim, ela não me atendeu. E antes que a paranoia me possuísse, pensando que ela já não me querer por perto, recebi uma mensagem de texto:

Mensagem: Estou em uma reunião, não posso te atender. As vinte horas no Lau.  


Respondi com apenas um OK.

Essa será a segunda vez que voltaremos ao barzinho da Zona Sul da cidade, porque a primeira vez foi estressante demais.

Amanda após a reunião me ligou, me xingou de todas as formas possíveis, pelo meu sumiço, pela minha indiferença de alguns meses depois de nosso último encontro. E como um vendaval se acalmou e sussurrou: - Estava com saudades!

Tanto tempo sem sair da rotina, confesso que sinto-me perdido e muito desconfortável. Sempre com a sensação de estar fazendo algo errado, olhos por olhos e dentes por dentes, chumbo trocado não me da prazer, m
as não impede a minha vontade em vê-la novamente.

"Ainda posso sentir o perfume dela impregnado na lembrança, suas mãos invadindo o que chamamos de "Ego masculino", me torturando com sua boca em meu pescoço, tirando meu ar com aquela respiração acelerada, me mordendo e com as unhas em meu abdômen arrancando a pele, transformando-me em um lobo voraz. O vigor de uma adolescente, uma alma noturna que foi consumindo-me até meu um último suspiro. Não foi necessário lua cheia para tal transformação, tudo ocorreu de forma simples e sem premeditação."

19h34 já estava no balcão tomando meu whisky barato, que em outro momento de extravagância chamava-o de pinga.

19h36 uma segunda dose.

19h41 observo um casal de adolescente sentados em uma mesa, risos, beijos e mordida de canto dos lábios dela fixando os olhos dele. Percebi que ele segurava um controle, isso tirou-me risos e me fez pensar "Garoto esperto!". Acho que é disso que estou precisando, não de um controle, mas desse tipo de paixão. Se bem que, um controle para dominar minha vida seria muito bem-vindo.

19h55 uma terceira dose, já estava começando a ficar ansioso. Nada de ela aparecer! Olhei o casal "Vai para um motel, todo mundo já percebeu o seu brinquedinho!". Acho que fiquei um tanto invejoso, um tanto nostálgico, por lembrar que eu e Camila fazíamos o mesmo para deixar outras pessoas olharem a safadeza ocorrendo debaixo da mesa. Isso nos dava prazer em sermos observados, fazer a mente dos curiosos se corroerem ao tentar imaginar o prazer que sentíamos do toque. 

20h05 e a perna estava inquieta, será que irei tomar bolo? Depois de tanto tempo não seria tão injusto assim, porque eu me afastei e nem dei satisfação.

20h17 mandei mensagem. "Você ainda vem?"

20h23 Liguei, mas só chamava. Poderia estar ainda em reunião.

20h37 Celular toca, é ela me ligando. "Alô?" uma voz desconhecida. "Eu liguei nesse número porque foi o último que tentou falar com a moça aqui." 

Quem é você?

"Então... Me chamo Antônio, você é namorado dela?"

Comecei a ficar preocupado. Sou um amigo!

"Olha amigo, estão levando ela para o Hospital da Independência, vou dar o celular dela para os enfermeiros, você sabe como..."

Desliguei o celular incrédulo sem deixa-lo concluir, tentando digerir o que acabara de ouvir o estomago embrulhou, o efeito do álcool parecia ter desaparecido, a adrenalina e o desespero tomou conta de uma forma, que não conseguia raciocinar para decidir o que iria fazer primeiro.

A decisão menos correta. Insano peguei o carro saindo em disparada.



 A luzes da cidade eram como vertigem, os carros como vagalumes. Passando os semáforos vermelhos sem ao menos parar, uma roleta russa imensa em minha cabeça. Não sabia dizer ao certo o porquê daquele desespero todo, nem éramos amantes. Eram apenas momentos que dividíamos a intimidade, algumas histórias, trocas de carinhos e longas risadas. Eu estava apenas agindo, apenas correndo por alguém sem saber descrever onde se encaixava na minha vida, mas corri!

~&~

"Enquanto dança sob a luz de sinalizadores, ela sente a areia macia escapar entre os dedos dos pés. A poeira que se levanta, mistura-se com a fumaça de cores variadas. A brisa fresca que vem do oceano arrepia todos os pelos de sua pele, a tal ponto que a deixa molhada. O suor escorrendo por seu pescoço, se perde entre os seios quase expostos. As luzes parecem ter vida própria, o céu parece um carrossel com luzes de natal girando em câmera lenta, e seu corpo é acariciado por inúmeras mãos, seja elas femininas ou masculinas. Ela apenas sente e sorri, fecha os olhos e não para de dançar." 

Camila mesmo sentindo-se mal, abusa da sorte e joga-se ao meio da multidão a beira-mar. Bebe e usa todos os tipos de drogas que se pode imaginar, ali mesmo regurgita e volta a beber.
Em um pequeno espaço entre outros corpos, libera toda sua sedução, se entrega e não nega-se a nenhum tipo de pudor. Vejo tudo isso como um ninho de cobras encontrando-se para o acasalamento, um contorcionismo irreal de luxuria e depravação.
Não que eu não goste de uma bagunça, mas o fato de ela me deixar em casa com a nossa filha para ir a um lugar deste tipo me faz desacreditar que um dia amei essa mulher. 

Ainda amo!

Sinto um vazio no peito que chega a doer, sinto-me tão sozinho, que a frieza dela com o meu sentimento faz-me pensar em besteiras. Estou cansado de tudo isso! Ano após ano enfrentando essa situação, tira-me a vontade de ser melhor, de ser pai, eu realmente estou entregue ao desgosto pela vida. 

"O amendoim cai no chão e sua casca fragmenta-se em migalhas. Seu interior aparenta não sofrer nenhum dano, mas ao observá-lo de perto, foi partido ao meio criando rachas."

Os primeiros raios de sol atingem a sacada do apartamento. A vista para o mar é sem igual. Ao olhar para o horizonte o sol nasce entre os dois montes, de um lado o fim da praia, do outro o início da ilha. A maré se quebrando na areia, formam-se espumas iguais a boca daquela que está jogada ao chão, bêbada e totalmente entregue ao seu orgulho, de provar a si mesma de que faz o que bem entende, sozinha, pois o rapaz que a acompanhava, sem dar satisfação, deixou-a naquele paraíso de pessoas fúteis. 

Sem importar-se com o fato de estar só, a ressaca martela sua cabeça sem sucesso tentando causar arrependimentos da noite anterior. Ela busca mais diversão, mais surpresas que a vida pode lhe oferecer. Me pergunto "da onde ela tira tanto dinheiro?". Pergunta besta! É óbvio isso, tão transparente como a água, não tão cego como eu. Mas o caso é, que ceguei-me por motivos que vão além do meu bem-estar, Julia!

~&~

Acordei com a boca seca.

Com uma dor de cabeça insuportável. 

A luz daquele lugar estava tão forte que mal conseguia abrir os olhos. Tudo girava. Onde estou? Pensei comigo em voz alta. Ouvi uma pessoa falando ao fundo. Não conseguia ver e nem entender o que dizia. 
Aos poucos foi me dizendo: - Calma! Não tente se levantar! E por varias vezes repetia-se essa frase, nem se eu  tentasse não conseguiria. Meu corpo estava todo dolorido, um formigamento intenso na perna.

"A água da chuva parecia retroceder na palma da mão estirada no asfalto. Tudo estava tão silencioso e ao mesmo tempo tão bagunçado. Pessoas correndo de um lado para o outro. Luzes vermelhas e intensas girando tão lentamente. Logo tudo escureceu em um silêncio, um simples apagar de luz."

- Senhor você esta desacordado a dois dias! Disse o médico com o jaleco amassado e sujo de caneta. Ainda sem entender tudo aquilo, acabei obtendo uma resposta: - Você sofreu um trauma na quinta vertebra cervical, mas foi feita uma cirurgia de imediato e não precisa se preocupar com a falta de movimentos na perna, é normal acontecer isso e costuma não ser permanente (Permanente? Não era uma coisa normal? Pensei comigo estranhando essa frase). De início não parece nada grave. Você irá passar por alguns exames e ficará em observação. Creio que logo em breve estará bem. Na verdade o senhor teve muita sorte após o acidente com o choque contra um caminhão de carga. (sorriu)Tem alguém lá em cima que gosta muito de você!

Me sinto tão estranhos, mal consigo lembrar as coisas, o ocorrido... Julia!

Por favor, enfermeira!

Enfermeira!

Enfer...

Em seguida apareceu uma senhora. 

Por favor, enfermeira, preciso sair daqui! Tenho uma filha novinha, e ela não sabe se cuidar. Preciso fazer uma ligação. 

- Senhor Luís acalme-se! Sua mãe já veio procura-lo e as 15 horas fará uma visita ao senhor.

Acomodei a cabeça no travesseiro, procurando lembrar o que houve, apenas flashs, luzes embaçadas, balcão de bar e Amanda!

Não sabia o que pensar.

Assim que minha mãe entrou, pedia a ela pra ir urgente descobrir algo sobre o ocorrido.

"A pressa e o desespero são duas aliadas ao caos, quanto menos tempo temos, menos paciência irá enraizar em nossa mente, nos deixando cegos e a mercê de erros irreparáveis."

 A luz está vermelha e seu celular tira a atenção do pior que está por vir. A velocidade está cada vez mais aumentando junto de uma dor de cabeça e estresse que busca conforto naquele que a aguarda em suas doses de ansiedade. Mas a desatenção no trânsito é uma das dores mais horríveis de muitas famílias, é o sangue nos olhos da revolta e sensação de impotência, e o amargo na boca do marido viúvo, é o coração vazio da mãe que aguarda seu filho chegar do trabalho noturno. E como uma orquestra, cada som se encaixa perfeitamente em um curto espaço de tempo. O freio zumbindo estridentemente no asfalto tatuado pelo pneus, as latarias dos veículos chocando-se como plásticos, o guidão da bicicleta sendo arrastado pelo chão seco arrancando faíscas e fogos de terror, e em um último instante, gritos de dor de um jovem que teve sua perna dilacerada, gritos da mulher que teve seu carrinho de cachorro quente amassado, e o silêncio de uma mulher na calçada arremessada através de seu para-brisa. Toda sua pressa, toda sua necessidade de ser feliz morreu ali, jogada ao chão, sozinha, com a face toda arranhada com o celular grudado na mão. A multidão aglomerando-se e fazendo seus pré-julgamentos de quem está certo, de quem causou todo o estrago, juris que mal sabem cuidar das próprias escolhas que fazem, que cometem os mesmo tipos de erros, que tornará essa história mais horrível do que já é.

A reunião de Amanda durou mais que o previsto, e na sua necessidade de tentar ser correta e pontual, errou com o espaço-tempo. Morreu por minha culpa. Ela só queria estar ali, eu queria que ela só pudesse me abraçar só mais uma vez.

Amanda morreu na calçada e sozinha.

Não pude conter o choro. O café desceu amargo. Minhas lágrimas misturavam-se ao líquido negro, tornando-o salgado e seco como o meu ser, causando-me uma tristeza tão profunda que a vista escureceu.

Berrei!

Gritei!

E novamente tudo começou a se escurecer. Mais uma dose daquela seringa aplicada pela enfermeira.

~&~

Julia foi passar um tempo com a minha mãe.

Eu não sabia mais o que pensar, muito menos enxergar.

Estou sentindo-me dentro de um poço, onde cada vez mais caio, onde nada da certo.

E como senão bastassem essas tempestades, Camila estava cada vez pior, porém,  ficar em repouso não estava em sua lista de prioridades.

Passou-se cinco meses após a morte de Amanda.

Meu nervosismo, meu tratamento na fisioterapeuta, minha cegueira temporária, assim espero.
Devido ao alto nível de estresse acabei perdendo a visão, não totalmente, mas o suficiente para enxergar tudo embaçado para escuro, algo chamado "Coreopatia Serosa Central", é uma doença com tratamento caríssimos, onde os homens tende a ter mais que as mulheres, pode ocorrer em apenas um olho ou em ambos, no meu caso os dois. Pra piorar nesse momento não tenho da onde tirar dinheiro para realizar o tratamento. Terei que depender desse sistema precário chamado SUS, mas não vou entrar em detalhes desse esquema corrupto que é articulado há décadas por diferentes governantes.  Tudo que vem acontecendo, imagino eu, que seja para enxergar menos as burradas que Camila anda cometendo. 

Camila foi diagnosticada com hepatite B, contou-me o resultado médico a beira da minha cama. Foi sútil parecendo ser outra pessoa ao falar. Entramos em acordo que a pequena Julia deveria passar um tempo com a minha mãe.

Mas o pior ainda estava por vir, cai na teia da aranha sem perceber, fui envolvido pela emoção e o pesadelo só iria começar.



5° CAP - NA TEIA DO PUDOR

5º CAP NA TEIA DO PUDOR


"Eu posso ver o brilho do sol sendo refletido nas águas calmas do oceano, eles quase me cegam. Os corais se revelam variados, seguindo os padrões de cores do biquíni de curvas perfeitas. Como uma sereia passa por mim lentamente, e seu abrir e fechar de pernas são como penas dançando ao vento, lenta e suave. Sinto o toque das mãos em meus pés, paralisado vejo aqueles cabelos emergindo e entoando canções em meu ser "o canto das sereias". Olhos do oceano, lábios do pecado, toda a beleza reunida em um só corpo. Posso sentir meu ser sendo sugado, meu coração acelerado anuncia o perigo e a razão morreu antes mesmo de sentir o cheiro de flores."

~&~

O "tic-toc" do relógio na cabeceira acompanha-me pela madrugada. A falta do que fazer e a falta de visão, não corresponde ao sono, a solidão e a ansiedade tem sido companheiras cruéis.
A boca seca dos remédios está rachada e machucada. A garrafa de água ao lado sem gota alguma. Deslisando os dedos sobre o rosto sinto a pele oleosa e peluda. Meu hálito me incomoda, podre igual a vaca que não se propõe a me ajudar. Estou a sete meses nessa cama, sem os devidos cuidados. Banho somente quando vou na fisioterapia. 
Mas porquê você não pede ajuda para alguém? Porque conviver com esse sofrimento? Porquê? Porquê?
Os muitos "porquês" que eu mesmo não sei responder. 
Eu sei responder, eu aceitei as condições que foram proposta a mim. Enfim ela chegou: 

- Camila, por favor, Camila...

Não me responde, finge que não me ouve, puta que...

Camila: - Oi, fale!

Sério? Bêbada? Qual a minha surpresa?

Camila: - Fale logo que estou indo descansar.

Vaca, pensei.

- Por favor, pode encher minha garrafa de água?

Sem muitos rodeios trouxe outra cheia, cheia... Cheiro de cachaça! Não sei até onde essa carcaça, essa casca permanecerá firme, caminhando. 

Bateu a porta, que ódio.

~&~

"Existiu um momento em que nossas loucuras e desejos se conectavam de uma maneira tão fácil, que um simples olhar despia o corpo, arranhava a alma, sugando toda a vitalidade existente. As pétalas sob os seios dançavam, vibrações por todo o corpo que se entregavam a tortura da surpresa, do esperar do próximo toque."

~&~

Escuro, fico pensar na melhora ou na esperança de voltar a enxergar. Enfim, o Deus do sono me visita neste momento.

Sinto uma boca me beijando, tirando minha camisa, segurando minha boca para não falar. Fico paralisado e deixo tudo acontecer. Sinto a boca percorrer todos os caminhos, dando-me arrepios, devorando toda a minha vontade que estava contida, até mesmo esquecida. O despertador toca, e arremesso-o para qualquer direção. Em um desespero Camila entra no quarto esbravejando após reparar os estilhaços pelo chão:

Camila - Além de cego ficou retardado? Maluco? Eu não vou catar essa merda no chão!

Na merda que já estou, impossível! Engano meu!

Camila: - Só um detalhe, este surto lhe custou sua tv, maluco!

Não, a TV não! Se bem que não estou enxergando, foda-se! Essa TV me custou a alma, 55'' polegadas. Comprei para assistir com a Júlia. Eis minha resposta, o motivo da minha submissão, o por quê de tudo isso, minha filha!

Caio no sono, outro sonho.

"Face a face, sinto o toque de seus dedos em minha barba como se dedilhasse uma harpa esboçando um sorriso tímido, seus olhos brilham juntos de gotas que fogem para o lençol, evaporando feito fumaça cor azul oceano, escuto uma voz ecoando dizendo: - Vai ficar tudo bem, lute! Logo me vejo sozinho com o coração disparado."

A respiração ofegante, o coração vibra e as mãos parecem estar com milhares de formigas caminhando em várias direções. Meu choro é seco e doloroso, assim como o estômago sofre pela falta de comida e de ânimo. O que torna tudo ainda mais difícil, são as lembranças, as coisas boas que vivencie, elevando a ansiedade e desespero por estar perdido, sem rumo, somente com ela no pensamento. 
Achei que a vida seria gentil em me dar uma nova chance de ser feliz com Amanda, mas ela partiu tão repentinamente, que não pude vê-la pela última vez, não pude me despedir, eu penso a cada minuto nos seus toques e beijos. 

~&~

"Quarto de motel e a luz da Tv,  sobre meu peito apenas o som do suspiro daquela que repousa tão docemente, sinto um amor que transborda a barreira do meu ser, que fere a alma gravando aquele momento no universo."
Na escuridão da noite o sons das motos uivam ferozes a toda velocidade, um breve silêncio, até ser quebrado pelo meu suspiro e um galo ao fundo animado. E mais uma vez o silêncio traz com ele as lembranças, as dores junto das lágrimas que começam tímidas e logo torna-se correntezas.

Ela era feita do furacão, pimenta nos olhos, chocolate derretido em morango. Ela deitou-se de bruços empinando a bunda e falou com autoridade:

-  Em cima da mesa tem essas duas velas, escolha uma e venha até aqui. Não esqueça os morangos na tigela.

Como patinho, segui suas ordens.

- Pegue o morango e Coloca na minha boca. (Mordeu a pontinha). - Cadê o pote de chocolate? (Me fez levantar e pegá-lo escondido atrás da sua bolsa, um pote de Nutella.) - Lambuze-o com vontade, e pingue suas gotas em minhas costas. (Uma boa quantidade caiu entre sua bunda, e fui espalhando por todo seu corpo). Coloca na minha boca agora. (Chupou todo o chocolate nele restante). - Agora chupe cada gota de chocolate em meu corpo. Chupe até deixar vermelho. Me aperta. Lambe mais. Morde aí, bem aí no meio das costas. Bem aí, no meio, só com a língua. ( Empinando a bunda empurrando contra minha face, me fez lamber, chupar, devorar todo aquele "doce"). Coloca ele um pouquinho, isso, assim bem devagarinho. (Parou subitamente, me fazendo deitar na cama de barriga pra cima). - Minha vez! (Levantou, foi até sua bolsa e voltou com uma pimenta dedo de moça, ficou sobre mim e começou a tortura.) - Agora morde a ponta dessa pimenta, morde! (Hesitei de início, cheguei a dizer que era louca.) - Vou lambuzar ela no chocolate. (Me fez chupar com uma mordida na pontinha. Ascendeu a vela e começou a pinga-la em meu peito, lambuzou a pimenta no chocolate novamente e sentou em mim, toda molhada, deslizando e gemendo gostoso, aumentando a velocidade e pingando a vela a cada movimento, me fazendo chupar a pimenta com chocolate, onde o tesão era tão forte que comecei a mastigar, o sobe e desce cada vez mais molhado, a boca ardendo, arremessou a vela pra longe me agarrando e me beijando até ambos uivarem de tesão, ainda ofegante disse:) Queria algo novo e quente? (Me beijou por mais vezes até cairmos em um longo riso).
Amanda ensinou-me a voar naquele quarto de motel, aquelas ideias malucas, a comida mexicana em embalagens de papel me enlouqueceram de paixão, de vida. 
O dia seguinte bebi tanta água que foi sorte não ter atacado minha hemorroida.

~&~

Sinto o calor do sol em um dos dedos da mão, um fio de luz que incomoda meu sono, minha calma. Quero voltar a enxergar. O silêncio da casa me incomoda. Acabei percebendo que o cheiro do quarto está mais leve, a empregada Dalva deve estar em casa, ela limpou o quarto que nem ouvi.

- Senhor Luís, bom dia. Trouxe seu café com os pãezinhos. "Eu vou ir pru sinhô na feira", porque tem muitas coisas vencidas na geladeira. Qual fruta trago para o senhor?

- Dona Dalva fica a vontade, pode escolher. 

Até mesmo porque a Camila não me ajuda em nada, e dona Dalva tem sido como uma mãe para mim. Assim que ela retornou, fez uma sopa de legumes com carne e veio me servir.

- Senhor Luis, estou a quatro meses aqui, se me permite...

Continue dona Dalva.

Dalva: - Eu vejo o senhor nesta cama, sem reclamar, sem culpar ninguém pela sua condição. Mas ouço o senhor chorar, as vezes olho e te vejo parecendo uma estatua, e fico a imaginar o que se passa em sua mente? O que planeja para o sue futuro? De onde tira seus sorrisos para mim?

Sorri... Escutei ela esboçar um sorriso. Alguns minutos, depois decidiu falar:

Dalva: - Eu vejo e escuto muitas coisas aqui, não sei qual é os planos de Deus para você e ela (Camila), mas siga seu coração! Se ele doí demais, significa que ele precisa de socorro, de cuidados, e se você esta precisando de cuidados, você não pode ajudar ninguém. A cura está nas escolhas que fazemos, está em quem escolhemos ao nosso lado, e quem está deve vibrar igualmente. Me desculpe por dizer isso, não devo interferir em nada, mas senti que precisava dizer. 

Obrigado Dalva!

Ela estava certa em tudo. Não podemos trocar nossa paz, por incertezas, nem pessoas tóxicas, mas estou me submetendo a anos a alguém que não me enxerga, ou como deveria.

Terminou a sopa e antes de fechar a porta sussurrou:

Dalva: Deus tem um propósito para cada filho, e cabe a nós descobri-lo. 

Meu propósito, eu não sei qual é! Pensei comigo. 

As semanas foram se passando, uma, duas, três, na quarta semana veio o milagre, estava enxergando tudo embaçado, como tentar enxergar pelo fundo da garrafa. Ao acordar, consegui decifrar onde estava o fim da cama,  de onde surgia o raio de luz, não era muita coisa, mas conseguia me localizar. Não comentei com Camila, com ninguém, por medo de ser temporário, por conta dos movimentos ainda serem limitados aos dedos dos pés e do pau pra cima, ou cintura como preferir. A perna ainda não sustentava o corpo.

Na mesma semana comentei o ocorrido com a fisioterapeuta, a Sara, a conheço pouco mais de quatro meses por conta do tratamento. Ela prontamente me animou dizendo que tudo era questão de tempo.

Sara, não faz 13 meses que perdeu o marido com câncer no cérebro. Morreu jovem aos 43 anos. Após a descoberta ele resistiu por quase 3 anos, o que foi uma surpresa para todos por conta dos médicos afirmarem que teria menos de um ano de vida. 

E o que parecia estar morno e acomodado, incomodou! Quando a tempestade já é esperada, nos basta torcer para que o estrago seja o menor possível.

Já era de madrugada quando o silêncio foi tomado por um murmúrio de vozes. Passos leves no assoalho do corredor, me deixaram apreensivo, por conta de haverem dois quartos antes de chegar ao meu, sem algum ser investigado ou aberto.
Logo percebi que uma das vozes era da Camila. Ela teve a capacidade de trazer alguém pra casa, aproveitando da minha situação acamado.

Voz : Você tá doida? Ele vai acordar!

Camila: Se você não quiser, já sabe!

Voz: Vamos para seu quarto, deixa pra lá.

Camila: Xiu, vai ser como combinamos! Se você desistir, você paga, ou melhor, você não ganha nada, porque trato é trato bebê.

Voz: Eu achei que era uma desculpa para sairmos da mesa, não achei que estava falando sério.

Camila: - Aposto que qualquer amigo seu, naquele bar, faria isto. Você apostou com eles, vai desistir?

Voz: - Você pega pesado! Vamos fazer isso, em silêncio, não quero ser morto.

Camila:- Por um aleijado? (Risos...)

Não entendi qual era o objetivo. Mas ela queria dar fim de mim? Me matar? Logo eu que aturei todas as traições, mentiras e verdades jogadas na cara?

Fiquei em silêncio, o mais imóvel possível, porque assim que colocasse a mão em mim, iria me defender, Mas para minha surpresa, ou teste de lucidez, a situação foi por um caminho insano.

A cama balançou:

Camila: - Tira a minha calcinha, devagar. Está de sapato aínda? Tira tudo!

Voz: - É pra eu ficar sem nada?

Camila: - A não ser que saiba fazer vestido.

Voz: - Você só pode estar de brincadeira.

Camila:- Coloca logo!

Voz: - Voce acha que é fácil? 

Camila: - Minhas mãos, tocando assim ajuda? 

Voz: - Acho que sim!

Camila: - Acha, vaza daqui! 

Voz: - Voce é maluca mesmo! Pode ficar com esse dinheiro. Você não bate bem. Você é maluca!

Se dirigindo a mim. Senti suas mãos em minha cintura.

Camila: - O que você me diz? Eu não bato bem? Olha, alguém estava excitado ouvindo tudo aquilo.

Suas mãos invadiram a coberta tocando ele em uma intensidade forte, pressionando e empurrando. 

Camila: - Eu sabia que você estava acordado. Eu sabia que isso iria te excitar. Você não anda, mas algo ainda está muito de pé e firme.

Eu não soube o que falar, ou que responder, eu queria aquilo. Eu queria sentir!. Não sei explicar se era paixão, amor, ou apenas necessidade. Eu não queria que ela parasse. Tanto tempo sem isso, suas mãos pareciam se multiplicar, me senti envolvido e amortecido.

Sentou em cima de mim.

Cravou suas unhas em minhas costas.

Suas pernas esquentaram as minhas.

Fui dominado até ela satisfazer seu desejo. 

Seus suspiros em meus ouvidos, sua respiração ofegante foi uma ferroada em meu ser. 
Todo esse meu desejo por ela, por aquele corpo, me senti um lixo!

Camila: - Vou te trazer um lenço umedecido. 

Foi e não voltou mais. 

Se bem que, eu não cheguei lá. Ela nunca se importa com o meu prazer. Nunca se importou!

Ela se comporta como uma viúva negra, ela retira meu "bulbo" me fazendo perder toda a  hemolinfa. A única diferença é que sempre sobrevivo a tudo isso.

E mais uma vez cai na sua teia. Embora dessa vez, não tenha causado tanto efeito. Algo mudou!

EM BREVE CONTINUAÇÃO!!!

Destaque